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A Minha Almofada Tem Rádio - Podcast

quinta-feira, 10 de abril de 2008

. quinta-feira, 10 de abril de 2008

A MINHA ALMOFADA TEM RÁDIO #6
RÁDIO ZERO - DOMINGO - 10 HRS


Sabia que há…
Músicos alemães com influências soul e blues (Flanger)?
Reggae roots e infusões funk (Kultiration), cantautor de humor peculiar (Cornelis Vreeswijk) e fun pop para colorir o dia (Maia Hirasawa) na Suécia?
Um trio de cantoras israelitas com vocais quentes e solarengos (Habanot Nechama)?
Chanson française de tendências excêntricas e elementos retro (Vincent Delerm)?
Doce folk islandesa com reviravoltas macabras e arranjos vibrantes (Hafdis Huld)?
Uma cantora dinamarquesa de voz texturada a pairar sobre influências jamaicanas (Ane Trolle)?
Swing jazz planante e esparso (Gwyneth Herbert) e frescura vibrante no folk vindo da Inglaterra (Kat Flint) ?
Pop cativante, emotivo e memorável na África do Sul (Farryl Purkiss)?
Jump-up reggae com pitada de funk (Karolina & Funset)?

(Internet for dummies: Siga os links amarelos, carregando ao mesmo na tecla CTRL para ser redirecionado para o sítio dos artistas)


6ª Emissão, meia dúzia de deliciosos contos de humor, desde o fresco Woody Allen dos anos setenta, passando pelo nonsense do francês Queneau, o desconcertante espanhol Enrique Poncella, o precioso autor uruguaio Benedetti, o medieval Boccaccio até uma crónica-conto de Alexandre O'Neill.


"Chichibio" de Boccaccio.

Escritor imortalizado por Decameron, clássico da literatura medieval, de onde este conto é retirado.


Chichibio, cozinheiro de Currado Gianfigliazzi, com uma pronta palavra em seu favor torna em riso a ira de Currado e escapa à má fortuna com que Currado o ameaçava.


"Um amor oculto" de Enrique Jardiel Poncela.

Um dos mais populares humoristas espanhóis. Este pequeno conto encontra-se em Pirulis de la Habana (Lecturas para Analfabetos), a primeira compilação de jardiel, publicada em 1927.


"(...) Vi a horível verdade. Leocadia era surda.
- Quê?- insistia
-Que também eu te amo com toda a alma!- repeti, gritando.
E arrependi-me em seguida, porque se viraram dez fregueses para me olharem, evidentemente incomodados.
- A sério que me amas?- perguntou, com essa maçadoria própria dos apaixonados e dos agentes de seguros de vida.
- Jura-mo?
- Juro!
- Quê?
- Juro!
- Diz lá que juras que me amas...
- Juro que te amo!- vociferei
Olharam-me com ódio vinte fregueses.
- Que idiota!-sussurrou um deles.- Isto é que se chama amar de viva voz.
- Então- seguiu a minha amada, alheia à tormenta-, não te arrependes de que eu tenha vindo a Madrid?
- De modo nenhum!- gritei, decidido a enfrentar tudo, porque me pareceu estúpido sacrificar o meu amor à opinião de uns senhores que falavam do Governo.
- E agrado-te?
- Muito!
- Nas tuas cartas dizias que os meus olhos eram muito melancólicos. Ainda achas?
- Sim!- gritei, como se estivesse a dar uma conferência na Praça de Touros.
Os teus olhos são muito melancólicos!
- E as minhas pestanas?
- As tuas pestanas, reviradíssimas!
- E a minha figura?
- Muito elegante!
Todo o café nos olhava. Todas as conversas se calavam, só me ouviam a mim. Nas montras começaram a ver-se transeuntes curiosos que contemplavam a cena.(...)"



"A Expressão" de Mario Benedetti.

Este Uruguaio, autor de uma vasta obra literária, escreveu vários livros de contos humoristícos, entre eles Cuentos, publicado em Espanha, de onde foi extraído este divertido texto.




"A puta de Mensa" de Woody Allen.

Allen Stewart Konigsberg publicou este conto originalmente no New Yorker, tendo sido depois incluído no seu primeiro livro Without Feathers de 1975. O título do conto brinca com a Sociedade Mensa, uma espécie de clube para os muitíssimo inteligentes.


"(...) Fiz a barba e bebi café forte enquanto consultava a série de resumos do Monarch College. Menos de uma hora depois, batiam à porta. Abri, e à minha frente estava uma jovem ruiva, embalada numas calças à boca de sino, como dois grandes cones de gelado de baunilha.
- Olá, sou a Sherry.
Sabiam mesmo excitar-nos a fantasia. Cabelo comprido liso, carteira de cabedal, brincos de prata, sem maquilhagem.
- Até me espanta que a deixassem entrar vestida dessa maneira – disse eu. - O detective do hotel normalmente nota uma intelectual à légua.
- Uma nota de mil acalma-o logo.
- Começamos? – disse eu, encaminhando-a para o divã. Ela acendeu um cigarro e pôs-se ao assunto.
- Acho que podíamos começar com uma abordagem do Billy Budd como a justificação que Melville dá para os insondáveis desígnios de deus para com o Homem, n’est-ce pas?
- Mas o interessante, no entanto, é que não é no sentido miltoniano. – Eu estava a fazer bluff. A ver se ela caía.
- Não. Paradise Lost não tem a subestrutura do pessimismo. – Caiu.
- Certo, certo. Caramba, tem toda a razão – murmurei.
- Penso que Melville reafirmou as virtudes da inocência num sentido ingénuo e, no entanto, sofisticado – não concorda?
Deixei-a continuar. Nem devia ter dezanove anos, mas já ganhara o calo da facilidade do pseudo-intelectual. Matraqueou as ideias dela, toda ligeirinha, mas era tudo mecânico. Sempre que eu lhe dava uma ideia, ela fingia uma reacção.
- Sim, Kaiser, sim, filho. Essa é profunda. Uma compreensão platónica do cristianismo… como é que não vi isso antes?
Falámos aí uma hora e depois ela disse que tinha de ir. Levantou-se e eu dei-lhe nota vinte.
- Obrigada, querido.(...)"



"(Da boa utilização dos calmantes)" de Raymond Queneau.

Tendo sempre demonstrado um grande interesse pelas ciências e pelas literaturas lúdicas, o francês Queneau vem a fundar o Oulipo (Ouvroir de Litérature Potentielle). Este desconcertante texto foi publicado em Conts et Propos (Contos e Ditos) postumamente em 1981.



"O citadino Pipote" de Alexandre O'Neill.
O'Neill não se pode considerar verdadeiramente um contista, embora algumas das suas famosas crónicas possam ser consideradas ficções curtas. É o caso deste texto, retirado da compilação Uma coisa em forma de assim (1980). Aqui revelam-se as características do humor irreverente, temperado pela auto-ironia, num estilo feito de frases quase lpidares, a lembrar por vezes o slogan publicitário, em que, aliás, era mestre.




foto: Hugo Tinoco

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