"Mood Swing" chegou, sorrateiramente, ao mercado, nos últimos dias de 2006.
Era a estreia em disco dos Electric Willow, um trio em que o ex-Caffeine Cláudio Mateus (voz, guitarra) se faz acompanhar por Abílio Sousa (baixo) e Pedro Geraldo (bateria).
O seu segundo trabalho, "Nothing's Ever Good Enough", tem levado o nome do grupo mais longe, acordando alguns ouvidos mais distraídos.
Aqui ficam os comentários do próprio Cláudio Mateus às nove faixas que compõem o disco.
To Get Across
Escolhemos esta canção para abrir, porque acerta com o tom e sonoridade que discorrem pelo disco. De alguma maneira, dá o mote do álbum ao resumir um certo olhar que perpassa pela lírica das canções que o compõe. O nosso amigo Filipe Miranda (The Partisan Seed) diz que este tema tem a melhor linha de guitarra do disco.
Bad Temper's Slave
É a canção possível para alguém com mau feitio e consciente do efeito terrível que esse mau feitio tem sobre si e sobre os que mais ama... um drama. Há quem chame a este tipo de canções exercícios de auto-comiseração ou canção do bandido, mas este terreno sempre foi frutífero para o fazedor de canções. É a canção mais acústica do disco. Gostámos muito do resultado dos sopros e das cordas que, pelo efeito criado, elevam a canção e a salvam da simples lamechice.
Cease The Falling
Gostamos do som desbragado das guitarras. O José Arantes (que co-produziu o disco comigo) conseguiu captar bem a essência das canções, sacando as sonoridades mais adequadas. Esta forma de esfarrapar acordes é o que melhor sabemos fazer. E não assentam nada mal em rockeiros de trinta e tal anos que teimam em encalhar nas mesmas dúvidas existenciais de um puto de dezoito. Este é um hino às quedas possíveis, onde somos convidados a concluir que a queda mais significativa e destrutiva com que um homem se pode deparar é a queda de cabelo, por ser a única irreversível...
Goat
A lírica encerra a ideia da necessidade que por vezes sentimos de nos distanciar de nós próprios para melhor nos conseguirmos vislumbrar e tentar perceber. Exercício difícil para alguém de apetites frugais e que ama a coisa terrena. Aqui, é, uma vez mais, a voz que vem para a frente e assume o comando.
Joy Is Brief
Esta é uma canção em que nunca acreditámos muito, mas, quando a começámos a gravar, ela foi-se revelando mais consistente e o resultado final acabou por nos surpreender. Um dos momentos mais curtidos das gravações foi quando registámos o coro final desta canção em que juntámos todo o pessoal amigo que apareceu pelo estúdio nessa noite e nos pusemos a cantar "nanananana" até doer.
Love Of The Lonely Kind
Esta canção procura falar de uma solidão que é a de cada um e que qualquer amor não pode confortar. A solidão aparece como único conforto de si própria. Ouvi dizer que soa muito a Lou Reed. Bem sabemos que o pop/rock sempre teve e terá um carácter mimético, mas às vezes dá ideia de que um gajo anda para aqui apenas a macaquear os outros. É óbvio que não me aborrece nada que falem no Lou Reed, antes pelo contrário. O ideal seria que tais comparações nos desse maior visibilidade, o que duvido, porque Lou Reed por Lou Reed, todos preferimos o original. A questão está em saber o que há, se o houver, para além das referências, e assim estas ganham mais sentido.
Moonsun Girl
Depois de um começo e desenvolvimento muito simples e despojado (assente no trio de guitarra, baixo e bateria), remata com aquele despique final, entre várias guitarras e os sopros, que é talvez, do ponto de vista instrumental, uma das partes mais intensas do disco. Ainda não percebi exactamente o queria dizer ao escrever esta letra.
Palm's Lane Lullabye
Esta canção é daquelas que saem de um jorro quando pegas na guitarra – é uma sensação muito fixe quando uma canção que te satisfaz aparece assim de forma tão simples e gratuita. Simples nasceu e simples a gravámos. Uma canção assim pede a letra mais intimista que lhe podes dar e foi o que tentei fazer...
Spark
É talvez a canção mais rock do disco. É uma das duas canções que contêm o verso que dá título ao álbum. O verso "nothing's ever good enough", que, à partida, pode remeter-nos para aquela tristeza que decorre de um estado de impotência, desencanto e desilusão, ganha aqui um sentido diferente, mais luminoso e positivo, quem sabe inspirador de qualquer força anímica para encararmos os nossos dias. Este paradoxo começa na capa e perpassa todo o disco onde as canções vão derivando por sentimentos ou estados de espírito opostos como sejam a solidão, a perda, o desespero, a saudade, o amor, o desejo, a confiança, a esperança ou a alegria mais fugaz.
Um abraço a toda a banda e muito obrigado ao Cláudio Mateus pela disponibilidade demonstrada.
Publicado por João Sobral em acisumblog.blogspot.com
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*Georges Perec*
*Romance fundamental na produção literária francesa da década de 1960, As
Coisas, de Georges Perec, está finalmente disponível em tradução...
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